terça-feira, 26 de abril de 2005

Ela saiu com pressa, atrasada para o trabalho. É fato que sempre que sai assim acaba por se esquecer de algo. Chegou no ponto e ao conferir o dinheiro pro ônibus constatou: desta vez foi a carteira.

Pega o telefone e disca o primeiro número gravado nas "últimas chamadas". Amorzinho aparece na tela... discando.
- Oi. Ele atende com a voz seca e fria.
- Oi.
- Esqueceu o que desta vez?
- A carteira.
- Já tá no ponto?
- Tô.
- Qual?
- O da padaria.
- Tô indo.

Ela acende um cigarro, senta na mureta e fica imaginado o trajeto dele até lá.
Imagina ele desligando o telefone e procurando a carteira enquanto esbraveja: - Ela sempre deixa alguma coisa pra trás. Deve ter um fundo psicológico nisso aí. Ela sabe que eu tô aqui, que vou levar a carteira pra ela e vamos acabar fazendo as pazes. Mesmo que esqueça sem querer, é de propósito. 

Ele, enquanto procurava a carteira: - Ainda bem que ela esqueceu a carteira. Odeio quando ela sai assim brigada e não nos despedimos direito. Nada é por acaso.

Seria ótimo se nossos amantes se comportassem da forma como achamos que eles deviam se comportar, e nós pudéssemos nos comportar como bem entendemos, sem que eles se achem no direito de exigir um comportamento por eles estipulado.