quinta-feira, 27 de outubro de 2011

CHUVA SAINDO DE NITERÓI

Movimento incessante.
Deslocamento constante de sujeitos em trânsito.
São muitos eus nas muitas cidades que é uma só: A minha cidade.
A lentidão caótica do tráfego é oportunidade para minha aproximação das ruas e seus passantes. E ainda mais perto fico das minhas esquinas de dentro.
Meus processos internos são como o fluxo da cidade; as veias cheias de táxis azuis e ônibus agressivos transbordam em excessos de mim.
Minhas pontes, desvios, atalhos, ruelas e avenidas e meu imenso engarrafamento de sentimentos que, enfileirados, encaixam-se uns nas traseiras dos outros. Eu sou a fita de Lygia Clark.
Não sente comigo a tristeza da cidade?
Não ouve o gemido das buzinas?
Percebe minhas luzes vermelhas?
As pessoas em suas cápsulas motorizadas se sentem protegidas e desprovidas de qualquer segurança nesse vagaroso e impaciente rastejar dos veículos.
Os sinais estão verdes e eu estou estagnada.
A solidez de minhas palavras-prédios se dilui na inconcretude de meus pensamentos-passageiros.
Estou presa no eterno ir e vir de minhas próprias intenções, sem lugar algum como ponto de chegada.
O que eu tenho é o caminho.