sábado, 8 de novembro de 2008

Eu mergulhei no mar. Era um mar calmo, de ondas pequeninas e água transparente onde podia-se nadar de olhos abertos sem arder e ver o fundo do mar cheio de pedrinhas redondinhas e pequenas. O dia quente, o céu azul sem nuvens. Enquanto eu entrava nas águas salgadas ouvia uma voz masculina, muito suave, me dizendo para ir ainda mais fundo. Que o oceano era tão vasto quanto o mundo e que era a minha morada.

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

UM HOMEM, UMA MULHER


Título Original: Un Homme et Une Femme
Gênero: Drama

Origem/Ano: FRA/1966

Duração: 102 min

Direção: Claude Lelouch

Em Deauville, num domingo de inverno, a jovem viúva de 30 anos, Anne Gauthier (Anouk Aimée), visita sua filha Françoise, estudante num internato da cidade. Jean-Louis Duroc (Jean-Louis Trintignant) também vem rever o filho Antoine, aluno e hóspede no mesmo endereço. No momento de voltar a Paris, Anne perde o trem e Jean-Louis lhe oferece uma carona. A semana passa e Jean-Louis só pensa na bela mulher que conheceu.
No domingo seguinte, eles se reencontram na praia de Deauville acompanhados dos filhos. Cada um é tão lento para revelar algo de pessoal, que cada revelação é oculta por uma má interpretação. Eles se tornam amigos próximos e, em seguida, ela revela que não pode ter um amante, porque, a memória do marido ainda é demasiada forte. Ele, um piloto de corridas de automóveis; ela, roteirista de cinema, tentam conduzir um relacionamento sincero e bem humorado em meio às insistentes demandas familiares e profissionais.

Um Homem, Uma Mulher despertou os olhares do mundo para a obra do premiado diretor Claude Lelouch. O filme faz uso de uma fotografia belíssima, e da música dos brasileiros Vinícius de Moraes e Baden Powell, para mostrar o despertar do amor entre o solitário convicto e a mulher precocemente viúva.

Lelouch brinca com as cores para localizar a platéia no tempo, usando o preto-e-branco e colorido para retratar memórias ou os diálogos do presente, respectivamente. Pode-se ver e ouvir nas telas os pensamentos do par questionando seus sentimentos sobre a possibilidade de iniciar um novo relacionamento. Grande parte do filme é falado em wordlessly in action, ou através de uma audição dos seus pensamentos conforme eles vão discorrendo sobre o seu dia.

Eles sabem que se amam, mas ela não se vê pronta para ele. Ela ainda está presa ao passado e é preciso se libertar do que a prende àquela história, que foi linda, mas acabou há muito tempo.
Ele, apesar de também ter sofrido muito com a perda brutal de sua esposa, já decidira voltar a ser feliz. Estava dando uma nova chance à vida. Ela o amava, mais amava ainda mais a história de amor, eternizada como num filme. E foi preciso tempo para que ela se deixasse tocar por essa nova sensação de esperança que chamamos AMOR.

Podemos ver no filme como se dá a relação das personagens com o tempo, tanto no caráter individual, quanto no momento de interação com o outro.
A máxima “cada um tem seu tempo” se torna facilmente compreensível quando sentimos, através das experiências de Anne e Jean-Louis que, apesar dos acontecimentos da vida deles terem um traço de semelhança, a maneira como cada um se comporta é pessoal, única e especial.
Este romance nos diz que quando existe amor, existe junto o respeito ao tempo do outro, ao nosso tempo e ao tempo da relação.

domingo, 12 de outubro de 2008

Eu ?

Às vezes vivo na superfície de mim mesma.
Bóio sobre minha existência.
Sabe aquela coisa de alma saindo do corpo e se vendo de fora?
É como se eu não estivesse vivendo o que estou vivendo.
É um outro eu. (?)

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Sair do "algo a dizer", simplesmente dizer.
Nem sempre você vai encontrar as palavras mais bonitas e contundentes para expressar o que sente e pensa.
Muitas vezes você se perde nesse emaranhado de prolixidade e no meio do discurso já não sabe para onde estava indo.
Desejo que seja lindo da forma que for.
Não force a barra, aos poucos você chega lá.
Aqui estou eu, na Barra.

terça-feira, 7 de outubro de 2008

LUIZ TATIT



QUER UMA COISA?

quer uma coisa?
vai lá e pega
já pegou?
então sossega

dá o dedo, quer a mão
dá a mão, quer o braço
dá o braço quer o resto
e vai pegando por costume ou por engano
quando vê, tem um montão de bagatelas
escapando pelas portas e janelas
quando vê, tem pedaços de ele-pê
papéis soltos de dossiê
tem até uma borrachinha de um antigo decavê

quer dar um beijo?
taí sua nêga
já beijou?
agora chega

dá a boca, quer o corpo
dá o corpo quer a alma
dá a alma quer o diabo
e vão nascendo jogos puros e obscenos
quando vê, tem um montão de bocas belas
distribuindo beijos como nas novelas
quando vê, tem boquinhas de morder
tem boquinhas de prazer
tem enfim tantas boquinhas e nem tem o que dizer

hora de pegar
hora de abandonar
hora de ter seu lugar
hora de continuar

quer uma força?
vai lá e chora
ficou forte?
adeus, cai fora

quer uma cor chama os outros
chama os outros tem o dobro
vem o dobro vira festa
e se alastra com dee-jay e sonoplasta
quando vê, tem um montão de tagarelas
incitando as conversas paralelas
quando vê, tem uma rede de tevê
tem convites pra turnê
tem até uma tiete que não vive sem você

hora de pegar
hora de abandonar
hora de ter seu lugar
hora de continuar

quer uma coisa?
vai lá e pega
já pegou?
então sossega

quer dar um beijo?
taí sua nêga
já beijou?
agora chega

quer uma força
vai lá e chora
ficou forte?
adeus, cai fora
adeus, cai fora
adeus, cai fora

LUIZ TATIT
Luiz Tatit é formado como bacharel em Letras (Linguística) pela FFLCH da USP, em 1978, e em Música (Composição) pela ECA da USP, em 1979.
Em 1986
defende na FFLCH a tese de doutorado "Elementos semióticos para uma tipologia da canção popular brasileira". É professor titular do Departamento de Lingüística da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP.

É membro fundador do Grupo RUMO, representante da vanguarda musical paulista da década de 1980. Com o Grupo RUMO, incluindo compactos, Luiz Tatit gravou no total seis discos, relançados em 2004. A partir da década de 1990 segue carreira solo.

Luiz Tatit escreveu a letra da canção Capitu, homenagem ao personagem do livro Dom Casmurro, de Machado de Assis. Foi gravada por Zélia Duncan e Ná Ozzetti.
Sua canção Achou foi vice-campeã de júri e de público no Festival da TV Cultura
, defendida por Ceumar. A canção Show, defendida por Ná Ozzetti no "Festival da Música Brasileira", da TV Globo, deu à cantora o prêmio de "Melhor Intérprete", e o direito a gravar um CD pela Som Livre, que recebeu o mesmo título da canção, Show.

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Movimento contínuo, cíclico, com ordem rítmica e tempo preciso, marcando o compasso no passo do marcapasso. tunt tunt tunt. Dar corda na caixinha que volta a rodar num movimento contínuo, cíclico, com ordem rítmica e tempo preciso, marcando o compasso no passo do marcapasso. tunt tunt tunt.

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Areia Movediça

Eu soltei a mão. Soltei e parei.
De repente foi ficando tudo escuro e silencioso.
Um oceano em uma madrugada sem Lua.
E pude ouvir meu coração. Pulsava o sangue vermelho, vivo, se espalhando por cada canto do meu corpo. Meus pés e pernas se mexiam com dificuldade, eu não conseguia sair do lugar. Flutuava numa substância densa e viscosa. Um oceano morno. Não conseguia respirar ali.
Como sair dessa areia movediça?
Era a primeira vez que só me restava eu mesma.

terça-feira, 30 de setembro de 2008

Dúvida

Pra quê serve a dúvida?
Para o não fazer.
De onde vem a vontade do não fazer?
Muitos podem ser seus motivos. No meu caso é o de não amar.
Eu não amo. Nunca amei ninguém.
No máximo me apaixono pelas possibilidades indicadas pela pessoa na minha vida.
Mas afinal, o que é o amor? (pergunta que não quer calar)
Se é amizade, carinho, cuidado, respeito, admiração, companheirismo, cumplicidade, afeto, compreensão...
Sim! Eu amo.
Mas se o amor está além desses sentimentos mundanos, humanos, voláteis, mutáveis, frágeis, solitários...
Não! Nenhuma de nós nunca amou de verdade.
Se o amor é não ter propriedade nem limite, regras nem juízo. Se amar é ser livre para amar como quiser, sentir o que vier e ter vontade de se ter vontade, então vamos soltar as mãos e voar.
Voar.