sábado, 11 de julho de 2020

assombros assobradados



nas casas assombradas
as portas rangem quando se abrem
talvez por isso
algumas nunca sejam abertas
ou quase nunca

fica à espreita, espiando o momento calhar e torcendo que o movimento seja preciso suficiente pro menor ranger possível dessa porta acostumada a esconder assombros evitados a todo custo.
uma vez abertas as portas de onde eles moram haveria que lhes dar nomes, e causas, e porquês e pra ondes.
talvez por isso as portas rangessem tanto

a casa assobradada
ela tem cheiro de pão quentinho
e de grama molhada em dia de chuva,
aquele sonho que todo mundo deve ter,
tem colorido por toda parte e um pouco de bagunça,
sempre

invento casa
invento sótão e porão
inventos as memórias que
constroem meu desejo
e, depois, tento desinventar
o troço fica agarrado aqui na ponta do dedo
ou da língua, sei lá
como o chiclete colado no cabelo
põe gelo, põe gelo
difícil tirar

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